O X DA QUESTÃO

Majestade, creio que sua crença sobre quem apoiou o impeachment esteja equivocada. Não é por que acho justo e positivo o afastamento de Dilma que vejo no Temer ou em qualquer outro o salvador da pátria.

De 07 dos 10 que converso ou conversei aqui em Salvador tem esse pensamento, então é a percepção que tenho.

Sobre combate à fome, o Lula já dizia que dar dinheiro ou comida não era combate à fome, mas compra de votos. Um país com mercado forte reduz a pobreza e mantém caixa para socorrer os mais necessitados.

Não posso falar sobre o que Lula disse, mas pelos resultados práticos, sendo eles ruins ou bons. Um mercado forte e equilibrado pode reduzir a riqueza, mas se deixar apelas o capital agir sozinho, voltamos aos séculos 18 e 19, onde se trabalhava 12 a 18 horas em nome do "desenvolvimento".

Sou contra ao assistencialismo, o Estado deve prover os meios para o desenvolvimento individual. O assistencialismo deve ser algo passageiro, infelizmente aqui pregamos isso, mas fazemos o contrário.

Quando as empresas sofrem um crise, as obras do governo são afetadas, notou? Pense que o inverso também se aplica.

A dependência do Governo ao setor privado não pode ser justificativa para lesar mais ainda o lado mais fraco da corda. Como nossa economia é "confusa", agimos ao contrário da receita tradicional, em momento crise o Estado tem que ser o maior fomentador da economia, não entrar junto com a crise, isso deve-se a uma falta de politica de Estado desde o império, aos meus olhos, exceto por pequenas ações.

Não vejo paradoxo além de um grupo político que sempre pregou ser diferente ter hoje como única defesa se igualar aos outros pelas mesmas práticas que outrora condenava.

Esse é um grande paradoxo, a exceção virou a regra porque se corrompeu, o que nos leva a uma grande decepção. Os atos criminosos devem ser punidos de forma exemplar, mas não virar "boi de piranha".

O paradoxo estar justamente no "acordo branco" em polpar o ex-companheiro em nome de uma governabilidade salvacionista. O paradoxo é que o Congresso tem que ser comprado de alguma forma para que haja a menor mudança. O paradoxo é que os fins sempre legitimam os meios aplicados. O paradoxo é que estaciono o carro na vaga de idoso/deficiente quando vou para manifestação anticorrupção. Somos uma nação de paradoxos, aos meus olhos.


Vosso,

Eu nem entro nesses assuntos de politica por que é chover no molhado.

Júlio, é uma pena que o debate tenha sido desencorajado no nosso país e, principalmente aqui na nossa micronação. Infelizmente, você pode ser criminalizado por dizer que vota em determinada pessoa ou que é simpatizante de uma determinada forma de governo. Isso já foi motivo de um longo afastamento meu do micronacionalismo.
Mas creio e defendo que há espaço para todos. E a minha exposição é desgastante, mas necessária para mostrar que há sim pluralidade, outros pontos de vista.

Fernando, se me permite mais um comentário na sua fala:

Concordo com muito do que foi dito e no que discordo, mais uma vez, vejo solidez e coesão de raciocínio. Algumas pessoas aqui na Italia me fazem repetir aqui algo que me alegra macronacionalmente: eu sendo reformado ouvia muito o Papa Bento XVI, sendo "de direita" admirava muito alguns discursos de Plínio ou Heloísa Helena, Eduardo Jorge, Cristovam Buarque, votei e fiz campanha pro Fernando Gabeira, e tenho enorme admiração pelos dois últimos. Discordo em pontos importantes, mas admiro a firmeza e a coerência dessas pessoas e me permito influenciar por aquilo que vejo nelas como qualidades aprendo muito com esses. Isso para não falar em Chico, Caetano, D2, Paulo Coelho... Dei uma volta, só pra dizer que discordo, mas considero rs

Queria mesmo falar da questão econômica. É que a economia está interligada e o governo é o coração disso tudo, ao mesmo tempo o cérebro. O Plano Real foi um período de estruturação econômica e atualização do que ocorrera antes durante o Governo Militar. O Governo Lula é marcado pelo crescimento econômico e uma reorganização da economia mundial, vivemos uma revolução nos anos 2000 e alguns países, bem preparados aproveitaram a oportunidade. Não foi obra de Lula, mas ele tem mérito por ter edificado sobre os alicerces anteriormente preparados, algo incomum na nossa política.

Contudo, o Governo Lula foi um governo de execução, elevando muito os gastos, qualquer pessoa não faria nada muito diferente. Acontece que uma economia tão aquecida é como uma locomotiva, quanto mais acelerada, mais suscetível a desastres a qualquer curva, ou desnível. E aconteceu... O Governo fez o que devia fazer, segurou as pontas, perdoou dívidas, flexibilizou, estimulou a indústria e o comércio, mas a corrupção obrigou a favorecer determinadas empresas, atrasou obras estruturais e colocou interesses eleitorais à frente da recuperação do país.

Foi como um pai que tendo recebido o aviso prévio, em vez de economizar e se adequar ao auxílio-desemprego, entrou no cheque especial, cartão e agiotagem... O Brasil surfou na crise para se afogar na marola... Isso foi desonesto.

Meu caro Valdinei,

Sérgio Moro se arriscou muito trazendo a público aquelas gravações que, se não são úteis ao processo, tem grande valor de utilidade pública. As gravações revelaram como se portam as pessoas em quem nosso povo deposita confiança, os dirigentes da nação, sua visão sobre as leis, o povo, as instituições... Caso aquelas gravações não fossem reveladas, a lava-jato poderia perder força e o que chamam de espetáculo é, na verdade a garantia de que, com o apoio da opinião pública, não se transformem em pizza. O PT já percebeu isso e, mais uma vez orienta sua estratégia de defesa não no centro das acusações mas na desmoralização de seus acusadores e juízes.

Num voto emblemático do decano do STF na questão de um recurso no processo de Dirceu, ele enfatizou a necessidade de julgar conforme a lei, doutrina e jurisprudência independente quem seja o réu. Lembro que a opinião pública toda queria que ele votasse contra a algo que classificavam como “tecnicismo jurídico”, ele não cedeu à opinião pública.

O judiciário não pode julgar ao gosto da opinião pública, isso é um absurdo, não importa ai a motivação. Moro não agiu em favor do processo, ele agiu em favor dele, de suas ideias e convicções, isso é errado, é contrário do que se espera de um juiz. Uma sentença poderia caber uma pessoalidade, em uma mera deliberação não. Não podemos admitir qualquer meios para chegar aos fins, sob pena de perdermos tudo.

Sua analise econômica não precisa de retoques, foi exatamente o que aconteceu.

Sou monarquista sim, embora eu creio que D. Luis e Bertrand perderam o bonde da história e da modernidade. D. Raphael não é preparado para o posto que o espera, embora ache que estar, enfim, restauração é só um sonho barato de padaria.

No mais, também gosto dessas conversas.


Vosso,

Pessoal, obrigado por pela participação neste "puxadinho"
parabéns pela exposição das ideias e argumentação. Eu sou um apaixonado por isso. Sério, muitas vezes assisto TV Justiça, Tv Câmara, Tv Senado, Tv ALERJ... e fico admirando a eloquência e o vocabulário de pessoas que muitas vezes discorrem sobre assuntos dos quais eu tenho pensamentos absolutamente contrários aos dos expoentes.
Agora vamos aguardar os desdobramentos dos assuntos aqui tratados e, certamente, futuramente teremos ainda mais matéria.
Tendo-se esfriado nosso fórum, volto à preparação das próximas edições de O X DA QUESTÃO.
Obrigado a todos e parabéns!