O X DA QUESTÃO

Só pra não deixar em branco,

Coloquei aspas para "sexo livre" por considerar de fato estranha esta expressão. Pois, para mim, não há sexo que não seja livre, a não ser quando os atores encontram-se em cárcere. Contudo, é uma expressão recorrente.

Quero registrar aqui meu respeito à musicalidade de Rita Lee. Eu fui criado no samba e creio que todo carioca tem um pouco disso. Mas conheci o Rock através de Legião, Capital, Paralamas, Rita Lee, Cazuza... Daí descobri Black Sabbath, Pink Floyd, Guns...
Mas não desprezei nunca Raul Seixas, Erasmo e muitos outros que são poucos valorizados na cultura do Rock Nacional como Serguei, algumas das pessoas que ajudaram a introduzir e popularizar a guitarra elétrica no nosso país, sob protestos de artistas como Caetano Veloso e Gil, pasmem! Talvez não gostemos muito dos artistas, suas músicas, sonoridade... mas, estão para nossa música como Charles Miller para o futebol nacional.

Vamos então delinear o conservadorismo para progredirmos,e tentar desanuviar as coisas, e assim vou posicionar o conservadorismo como sendo: um sistema de crenças (crenças! pensem nesta palavra) que se baseia na tradição, nos costumes, objetivando construir uma sociedade melhor que a atual mas seguindo as crenças e costumes do passado. E isso não é minha opinião sobre conservadorismo, isso é o que é o conservadorismo em si mesmo. E nada mais é o conservadorismo que isso, sustentar crenças, tradições e costumes do passado, pois se considera que a sociedade do passado era melhor.

Agora vamos a uma alegação: não há ontem melhor que hoje. Esta alegação é minha, mas não é minha mera opinião, ela se fundamenta em um volume considerável de dados históricos que nos mostram, com bastante clareza, que todas as gerações passadas estavam em situações piores que as atuais. Sejam tecnológicos, sejam de liberdade social, sejam de conquistas sociais...

Neste ponto vale esclarece um equívoco: quando falamos para ouvirem os velhos, não dizemos para os reproduzir. Dizemos apenas para ouvir. Ouvir um velho bem pode servir para poder, justamente, não fazer nada do que ele fez! E aqui nos vale o progresso científico e filosófico. Se a ciência fosse conservadora não evoluiria, não poderia evoluir, pois ainda se estaria tratando doenças com unguentos e panos quentes e achando uma bobagem lavar as mãos antes de uma cirurgia. O mesmo para a filosofia, se ela fosse conservadora, ainda estaríamos aplicando método socrático, acreditando que os indivíduos são capazes de "parir" conhecimento.

Todo este assunto é complexo, no cerne do conservadorismo vão misturar dois mitos que a história e a filosofia, prazerosamente, corrige e desfaz: a sociedade passada era melhor que a sociedade atual, e que os costumes do passado eram melhores e formavam uma sociedade melhor. E aqui eu apresento o equívoco de que falo sobre todo conservador: o de achar que o ontem foi melhor que o hoje. Ai sim, minha opinião, apensa fundamentada em dados históricos e filosóficos e, também, por que não, científicos.

Falado de forma assim, genérica, afirmar que a sociedade do passado nunca foi melhor que a sociedade do presente, vem necessitar fragmentar. Pois, é claro que, para o Senhor Feudal, o modelo de sociedade feudal, foi melhor que o modelo de sociedade industrial. Aqui começa a necessidade dos dados históricos e conhecimento filosófico para que possamos compreender, para que grupos dominantes, uma dada sociedade do passado, pode ter sido melhor. Por exemplo, para os coronéis a sociedade coronelista do Brasil dos anos 70 e 80, foi mesmo muito melhor que a atual. Mas para o resto dos cidadãos, semi-escravizados, não. Então em um aspecto aquela crença social e construção social era melhor para um número mínimo de pessoas no poder. Não era uma sociedade melhor, era apenas um sistema melhor para manter algumas poucas pessoas com muito poder. E isso precisa ser entendido claramente para que se possa compreender a alegação de que: o ontem, nunca foi melhor que o hoje.

Aqui eu talvez já possa mostrar a conclusão sobre o conservadorismo não "caber" no jovem. Seja com que nome for, semi-conservadorismo, new-conservadorismo... Pois nenhuma crença ou ideia do passado é melhor que as atuais. "Ah, mas isso e´sua opinião", sim, porém fundamentada num dado: tudo que progrediu e evoluiu do conhecimento humano foi somente aquilo que aprendeu com o passado, largou a crença, e construiu melhor. E somente dois ramos do conhecimento humano fizeram isso até então: ciência (que sempre fez) e filosofia, que retomou a isso depois de romper com as crenças no fim da idade média.

Sou eu quem está dizendo que não há crenças e costumes antigos melhores, até por ser absolutamente demonstrável que eles não geraram sociedades melhores. Parafraseando Einstein "quer melhor, faça diferente". Mas para esta minha "opinião" existe um aglomerado de registros de dados históricos.

Sobre música e afins, acho que até vale abrir outro tópico, pois, sinceramente, quase nenhum músico brasileiro é "isso tudo". Raul, profundamente machista! Rita, profundamente rebelde, Legião reflete o desnorteamento e imaturidade do jovem oitentista... Alias, neste espectro, estas bandas, musicalidade à parte - é gosto - servem muito mais como exemplos de "estímulos e respostas" da sociedade em que surgiram para nos nortear, e mostrar, como é mais interessante, ao invés de substituir crenças ou manter crenças, assumir posturas como as da ciência e filosofia e ir em direção do racional e ético na construção de uma sociedade melhor.

Pois estamos aqui a falar, como produto, da construção de uma sociedade melhor, certo?

A coisa vai evoluindo, desenvolvendo e ganhando outros elementos.
A exposição inicial era da minha observação sobre os desdobramentos das últimas eleições, Vossa Alteza ressaltou a questão dos jovens conservadores, eu citei Rita Lee e aproveitei pra comentar a arte deles.
Concordo que podemos tratar disso à parte, eu estou mesmo trabalhando na retomada de um projeto audiofônico e podemos criar uma pauta musical temática, interessante...

Enfim, qualquer coisa que eu ou o Duque falemos sobre conservadorismo daqui em diante, creio que seja mera repetição. Mas valeu o bate-papo.

Uma pauta musical temática bem pode ser bastante interessante sim!

Concordo sobre o assunto principal, aliás, esta evolução do assunto que você coloca e chama a atenção para novos elementos. Isso é importante, também no sentido de nos lembrar do dinamismo da conversação nos moldes que temos aqui. A fim de podermos manter exposições de idéias contrárias, o que é saudável, mas de maneira mais clara, como tem sido feito.

Fica mais produtivo e menos desgastante, a meu ver. E sim, valeu sim!

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Hoje, 11/11/2016 completam-se 20 anos que perdi meu avô, meu pai e meu primeiro amigo.
Como meus pais se separaram quando eu tinha 4 meses, eu só via meu pai nas audiências da Vara de Família, pra tratar da pensão alimentícia.

O pai da minha mãe e eu éramos os únicos homens num quintal de 4 casas e umas dez pessoas da mesma família. Ele me levava pra todo lugar. Inteligente, esforçado, autodidata... Eletricista, motorista, mecânico de motores a diesel... Segundo em uma família de cinco irmãos, teve de deixar a escola em Rio Casca, interior de Minas, para ajudar a mãe no sustento e na educação das irmãs. Mas aprendeu a escrever "tendo por caderno papel de pão e por livro jornal velho" dizia a Bisa que, certa vez ele pintou uma casa, já no Rio de Janeiro, onde o dono se desfizera de velhos livros de eletrônica, foi quando meu avô deixou de ser pintou e passou a consertar máquina de lavar, liquidificador, televisão, rádio, telefone...

Voz do Brasil aqui era obrigatório, mas ele se orgulhava mesmo era da rádio russa que conseguia captar com um aparelho que fizera. Tim Maia, Beth Carvalho, João Nogueira, Chico, eram os discos mais tocados, nunca mais que Zeca rs.

Fumante desde os 14, com algumas internações por alcoolismo (o que ele deixou anos antes de eu nascer, a pedido da minha mãe), o velho sabia que lhe restava pouco tempo. A rotina da casa era em função da sua saúde (ou da sua doença) os 73 degraus da rua até minha casa levavam uma hora para ser vencidos, eu nunca passava a frente dele.

Ele me levava pra todo lugar, me fazia olhar como ele conversava, como comia, como trabalhava... Na banca vendia umas cartilhas, cada uma de uma cor: Verde, amarela, azul marrom... cada cor era um nível. Quando não me levava pra algum serviço ele me dizia "crenca, quando o sol chegar em cima daquela árvore eu tô chegando pra lhe tomar a lição, ai de você se não estiver feita." O que seria "AI'? eu nunca paguei pra ver rsrs

Desculpem ser enfadonho com essa história. São vinte anos...
Lembro da nossa última conversa:

Ele me acordou cedo, como de costume, pra limpar o quintal. Varrer as folhas, limpar as sujeira dos cachorros, molhar as plantas da Bisa e dar água e comida pros cachorros. Dessa vez ele não veio comigo, ficou na janela. Eu não entendi, mas não perguntei nada. Eu nunca perguntava, só queria ser um bom aluno e ele, sabendo da sua falta de tempo, se esforçava para ser o melhor professor.

Treze anos depois, no dia 27/11/2009 quando eu fazia meu juramento de ingresso à Força Aérea, o Comandante fazia seu discurso e então à minha frente eu vi um garoto agachado limpando o quintal e conversando com aquele garoto magrinho de short azul estava o velho dizendo "crenca, quintal se limpa cedo! No quartel ninguém dorme depois das 6 da manhã. Antes do café tem a faxina. Quando você fizer 18 anos, eu não vou estar aqui. Você vai se alistar lá em Madureira, onde eu fui. Vão perguntar se você quer servir e você diz que sim. Vão mandar você escolher Exército, Marinha ou Aeronáutica, eu escolhi Exército, mas era pra ter escolhido Aeronáutica, lá você vai trabalhar muito, mas depois melhora. Vai ajudar sua mãe, sua irmã e vai aprender muita coisa boa. Fica longe de tudo que não presta, você vai ser o homem da casa, me dá orgulho"

No dia seguinte, eu acordei com uma correria em casa, me levaram pra minha tia e na hora do almoço minha mãe chegou chorando e disse "nei, papai não vai voltar mais pra casa"

Eu tinha seis anos e não chorei. Respirei fundo e, como se ele estivesse me vigiando, assumi minhas funções de "homem da casa" acalmei minha mãe, dei a notícia pra minha irmã e fiquei com a Bisa. Mas em 2009, com 19 anos, lembrando do que ele me disse 13 anos antes, com um balão de oxigênio que alguém pagava pra ele... Eu estava ali, com aquela farda Azul, como ele disse...

Esses vinte anos que se passaram não superaram os seis anos que eu tive ao lado dele. Não herdei sua inteligência, seu talento... ele mesmo nunca se interessou em me ensinar aquilo. Mas me ensinou muito sobre a vida, mulheres, família, dignidade, honestidade... Ele faz falta, mas tem muito dele vivo ainda aqui...