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QUEM CONTO SEUS MALES EM CRÔNICA

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11 Mai 2014 16:05 #23457 por Fernando Orleans (fernandoorleans)
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Quem Conto seus males em Crônica

A Mãe do Bandido

"Já na mãe do bandido ninguém pensa. Não cabe. Mas todo bandido também tem mãe. Ou já teve. E essa mãe está só, isolada, em desespero, afundada na dor, na desgraça. O ódio que nasce pelo criminoso respinga na mãe e no pai, caso haja um pai reconhecido, identificado, um estrangeiro que veio da Alemanha para conhecer a mulher brasileira, flertou, namorou, engravidou a coitada, sumiu, não conheceu o filho e nunca mais deu as caras. Todos pensam que a mãe do bandido incentivou o delito, o pecado, o perjúrio, a ofensa, ensinou más ações, deu exemplos horríveis.

A mãe do bandido, aflitíssima, se esconde, se isola, tem pavor de ser descoberta, apontada. Corre a todo momento o risco iminente de ser linchada pelos vizinhos. Pela mãe do bandido nenhuma missa na Sé com o arcebispo, ninguém quer saber de pensar se bandido tem mãe e se a mãe precisa de ajuda, em sua solidão desmedida, tendo de continuar trabalhando e esconder dos colegas da firma que seu filho é o monstro contra o qual tanto se fala, aquele que um dia, na infância, deve ter sido a carinha da inocência e da graça e numa hora atroz e infeliz começou a se tornar aquele que viria a fazer o que fez e obrigar sua mãe a guardar um segredo horroroso sobre o mal nascido em casa,..."


SMR Louis-Philippe II Orleans-Umbrio MacLogos Pellegrini 
Rei da França
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09 Jun 2014 14:20 #23538 por Fernando Orleans (fernandoorleans)
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MÜNCHHAUSEN
Wednesday, August 12th, 2009


- Começa agora o CCXI Concurso de Mentiras de Santo Antônio do Engano. – o presidente do juri fez este anúncio para uma multidão de 12.000 pessoas, um dia antes do início real do concurso, conseguindo o 11º lugar.

No dia seguinte, todos voltaram para ouvir o verdadeiro discurso oficial:

- Como todos sabem, a 221 anos [na verdade, 211] o município [vila] de Santo Antônio do Engano realiza este Concurso. Como em todas edições [depois da 101ª], nós temos um tema principal e 3 secundários [só o principal] que os concorrentes podem [devem] usar em suas mentiras. O tema deste ano é Mãe [ fundação de Santo Antônio do Engano]. Devo lembrar que, o uso do Paradoxo de Epimenides é aconselhável [proibido]. Vamos receber o primeiro candidato, a Sra. Silvia Rotallsen [Dr. Vitor Van Vorghen].

Vitor Van Vorghen subiu no palco, enxugou uma lágrima que caia de seu olho direito e falou para a platéia:

- A história que eu vou contar agora, foi passada de pai para filho por mais de trezentos anos. Meu bisavô, queria fundar a cidade vizinha, Santo Antônio do Desapego. Infelizmente, quando vinha subindo a serra foi pego por um furacão. Ele girou e girou dentro do furacão. Girou tanto que saiu desnorteado. Chegando aqui, ele fundou Santo Antônio do Desapego. Mas quando percebeu o erro, mudou o nome da cidade para Santo Antônio do Desengano. – finalizou o Dr. Vitor Van Vorghen, que nunca terminou o 2º grau, cujo sobrenome não era Van Vorghen e era órfão de pai e mãe.

Assim foram, sucessivamente, os discursos do concurso:

- … daí o rio fugiu da cidade. Dizem que ele continua correndo de medo até hoje.

- … casou com a Princesa de Java e agradeceu Santo Antônio pelo milagre.

- … claro que eu não podia aceitar ser Rei do Brasil, mas aceitei a cidade como presente.

- … e Santo Antônio acabou devolvendo a vaca errada.

E agora, vamos receber o Sr. Giovanni Battista di Pietro Bernardone.

- Bom dia, eu acho que a maioria de vocês me conhecem como São Francisco. Bem, eu vim aqui hoje porque aconteceu um equívoco. O santo padroeiro da cidade sou eu. Então, se vocês pudessem corrigir o engano de Santo Antônio… – não conseguiu terminar. O Santo foi carregado em triunfo e levou o 1º lugar.


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16 Jun 2014 15:57 #23561 por Fernando Orleans (fernandoorleans)
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Jogo de Estréia

(...) - Mariana. (...) - Sete, faço oito mês que vem. (...) - Fluminense, né, páie?...
- Opáie, seu amigo vai ao jogo? (...) - Eu vou! (...) - Maracanã!
(...) - Gosto! Acho bonito. É da cultura da gente.
(...) - Eu jogo! Na escola. (...) - Atacante. (...) - Gosto de fazer gol, ué?... (...) - Ah, um de bicicleta. A goleira me empurrou, eu caí de costas... Puxei a bola por cima de mim...
(...) - Não. Os dois têm jeito, meninos e meninas. Depende da pessoa. (...) - Eu sempre digo: ficam três marcando! Mas vai todo mundo junto atrás da bola... Tem que organizar.
(...) - De goleira, também. Que sou alta... (...) - Ah, não. Se me jogasse na bola, quebrava um braço por jogo.
- Vem com a gente!... (...) - Tá, tchau!
---
- Esse ônibus tá muito cheio, páie! (...) - Que bagunça, essa torcida...
- Páie, eles tão gritando palavrão! (...) - Não gosto, não...
- Falta muito pra chegar? (...) - Vou tampar o ouvido.
- Páie, ainda tou ouvindo... (...) - Chegamos?... Até que enfim! (...) - Páie, se é pra xingar, eu não torço não...
---
(...) - Cachorro-quente! (...) - Suco de quê? (...) - Goiaba é o que eu gosto mais.
- Páie, cabe todo mundo lá?... (...) - É, é um portão grande... (...) - Caramba, que rampa! Não sei se ‘güento chegar lá em cima não...
- Por aqui, chega no campo?... (...) - Ah, arquibancada... Quê que é...?... Puxa, é alto, aqui. O campo é lá longe... É verdinho, né?...
- O jogo, demora a começar?... (...)
- Páie, eu queria um sorvete... (...) - De chocolate!
---
- Páie, quê que foi? (...) - Ah, é mesmo! Olha lá o Fluminense! (...) - Tô gostando! O que eu mais gosto é cor. (...) - Bandeira, uniforme... (...) - Uniforme é bonito. Preto e branco é que não combina... (...) - Não. Uniforme de Vasco e Botafogo é bonito. (...) - Vermelho e preto, combina! É Flamengo, mas combina... (...) - Combina: vermelho e verde! (...) - Grená? Quê que é grená?... (...) - Ah!, grená e verde! (...) - O da seleção brasileira. Também é bonito.
---
- Páie, pra quê que eles tão gritando?... Nem começou o jogo... (...) - Pois eu só vou torcer na hora do jogo!
- Páie! Eles tão xingando! (...) - E esse barulho todo não atrapalha os jogadores? (...) - E por que todo o mundo tem um radinho? Não tão vendo o jogo?... (...) - É chato, esse barulho, páie. Bate tambor o tempo todo aquele ali, ó...
- Páie, pede a ele lá... (...) - Você podia... (...) - Ah, tá...
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- Páie, vam’bora?... (...) - É que não dá pra ver direito!
- Páie, manda o moço parar de tocar o tambor! (...) - Mas, eu quero!... (...) - Que barulhão!
- Moço, pára de tocar esse tambor! Ei, moço!... Ele não pára, páie...
- Páie, eles tão xingando de novo! Diz pra parar...
- Páie, você também tá gritando palavrão... (...) - Não! Quero ir embora! (...) - Eu quero ir! (...) – Choro, sim! Eu quero ir embora...
...
(...) - Mas, páie, quinze minutos é pouco?... Você queria ver mais?... Eu vi muito... Teve uma hora lá que quase fizeram um gol... (...) - Não, páie, eu gostei. É legal. Tem empolgação... (...) - Eu até queria ficar...
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- Esse ônibus tá vazio, né, páie?... Quieto...
- Páie, sabe duma coisa?... Gostei do Maracanã. (...) - Sério, páie!
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- Páie, quando tiver outro jogo... Você me leva?...


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26 Jun 2014 01:51 #23591 por Fernando Orleans (fernandoorleans)
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DESESPERANÇA
7 de junho de 2014 por Barbara Nonato

Naquela noite não conseguiu pegar no sono. Lembranças antigas, de quase trinta anos, insistiam em atropelar o sono e fazê-la voltar num tempo onde o tempo deixara de existir fazia tempos… Com total precisão, voltou-lhe à mente um episódio antigo que resultou em outras noites mal dormidas.

Lembrou-se da aula na segunda série do ensino primário, onde a professora substituta, com o cigarro aceso na mão, sugeriu que os alunos, todos com idade entre sete e oito anos, assistissem a um noticiário especial sobre guerra atômica, que seria exibido na TV naquela noite. Naqueles tempos, sugestão de professor era ordem e ela a cumpriu.

Depois da janta foi para o quarto e ligou a TV. Nas imagens que se seguiram, só destruição e teorias sobre o que viria após subir o cogumelo nuclear. Encolhida na cama, lembrava-se assustada das palavras da professora que, ainda em 1984, afirmava que era perda de tempo progredir; que era bobagem das pessoas terem filhos naquela época, visto que o mundo estava prestes a ter um fim; que nada mais valia a pena, pois uma Terceira Guerra estava por explodir. Era estranho imaginar um fim, era doloroso pensar em um após sem um depois. Não sabia como lidar com o vazio de mentalmente visualizar o mundo sem ninguém.

Em retrospectiva, o noticiário exibia a menina que corria para sobreviver no Vietnam, enquanto o narrador afirmava que, após explosão de uma bomba atômica, apenas as baratas continuariam povoando o planeta. Teve medo. Não entendeu o porquê da professora sugerir tal programa… Era melhor não saber de nada; era melhor não ter noção de tamanho perigo e seguir vivendo sem aquela sombra radioativa de futuro. Ela tinha apenas sete anos e estratégias inúteis de sobrevivência não estavam em seus planos lúdicos.

Após uma hora de tortura psicológica, o noticiário chegou ao fim e ela desligou a TV. Não dormiu. Só conseguia pensar no que seria se o fim chegasse; ver suas pessoas morrendo segundos antes de morrer também… Como sobras, um mundo cinzento, onde baratas passeariam pelo chão que um dia o homem construiu para sua ganância destruir. Fechava os olhos e via corpos desfigurados, carbonizados ao som dos ecos brutais das ondas de radiação. Em algum momento pegou no sono para acordar na manhã seguinte não menos apavorada.

Trinta anos se passaram. O mundo não acabou… Pelo menos, ainda não. Durante estes trinta anos, por muitas vezes lembrou-se deste fato, das profecias no noticiário, das palavras da professora. Hoje, beirando os quarenta, pensa no que teria acontecido se as ‘teorias’ da professora fossem levadas a ferro e fogo. Se nada mais valesse a pena, não haveria investimento em futuro e estes trinta anos não teriam se passado de forma tão intensa, tão vívida. Se as pessoas, de fato, tivessem deixado de ter seus filhos, conforme ela aconselhou, por medo de que eles não pudessem viver o suficiente para serem felizes, teriam deixado de ver inúmeros sorrisos e vivenciar momentos mágicos, que somente a infância de alguém próximo nos podem oferecer. Se o mundo não tivesse acreditado em possibilidades, e não tivesse progredido mais por receio de um fim próximo, ela, certamente, não estaria agora em frente a um computador contando esta história.
***

Obs.:

Trata-se de episódio real que me apavorou por anos a fio. Na década de oitenta havia uma permissividade absurda em relação aos professores em sala de aula e esta professora, na época recém chegada para substituir a professora regente de turma, cometeu esta atrocidade. Por conta da idade, sem o devido senso crítico que os fizesse questionar, os alunos assistiram ao programa (um Globo Repórter) e, acredito eu, a maioria deve ter vivenciado calada a mesma angústia que vivenciei. Mas ninguém reclamou, ninguém disse nada… E me pergunto: quantas outras infâncias a tal professora destruiu?…


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22 Jul 2014 13:42 #23692 por Fernando Orleans (fernandoorleans)
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O correto uso do papel higiênico – Último artigo de João Ubaldo Ribeiro para O Globo


O título acima é meio enganoso, porque não posso considerar-me uma autoridade no uso de papel higiênico, nem o leitor encontrará aqui alguma dica imperdível sobre o assunto. Mas é que estive pensando nos tempos que vivemos e me ocorreu que, dentro em breve, por iniciativa do Executivo ou de algum legislador, podemos esperar que sejam baixadas normas para, em banheiros públicos ou domésticos, ter certeza de que estamos levando em conta não só o que é melhor para nós como para a coletividade e o ambiente. Por exemplo, imagino que a escolha da posição do rolo do papel higiênico pode ser regulamentada, depois que um estudo científico comprovar que, se a saída do papel for pelo lado de cima, haverá um desperdício geral de 3.28 por cento, com a consequência de que mais lixo será gerado e mais árvores serão derrubadas para fazer mais papel. E a maneira certa de passar o papel higiênico também precisa ter suas regras, notadamente no caso das damas, segundo aprendi outro dia, num programa de tevê.

Tudo simples, como em todas as medidas que agora vivem tomando, para nos proteger dos muitos perigos que nos rondam, inclusive nossos próprios hábitos e preferências pessoais. Nos banheiros públicos, como os de aeroportos e rodoviárias, instalarão câmeras de monitoramento, com aplicação de multas imediatas aos infratores. Nos banheiros domésticos, enquanto não passa no Congresso um projeto obrigando todo mundo a instalar uma câmera por banheiro, as recém-criadas Brigadas Sanitárias (milhares de novos empregos em todo o Brasil) farão uma fiscalização por escolha aleatória. Nos casos de reincidência em delitos como esfregada ilegal, colocação imprópria do rolo e usos não autorizados, tais como assoar o nariz ou enrolar um pedacinho para limpar o ouvido, os culpados serão encaminhados para um curso de educação sanitária. Nova reincidência, aí, paciência, só cadeia mesmo.

Agora me contam que, não sei se em algum estado ou no país todo, estão planejando proibir que os fabricantes de gulodices para crianças ofereçam brinquedinhos de brinde, porque isso estimula o consumo de várias substâncias pouco sadias e pode levar a obesidade, diabetes e muitos outros males. Justíssimo, mas vejo um defeito. Por que os brasileiros adultos ficam excluídos dessa proteção? O certo será, para quem, insensata e desorientadamente, quiser comprar e consumir alimentos industrializados, apresentar atestado médico do SUS, comprovando que não se trata de diabético ou hipertenso e não tem taxas de colesterol altas. O mesmo aconteceria com restaurantes, botecos e similares. Depois de algum debate, em que alguns radicais terão proposto o Cardápio Único Nacional, a lei estabelecerá que, em todos os menus, constem, em letras vermelhas e destacadas, as necessárias advertências quanto a possíveis efeitos deletérios dos ingredientes, bem como fotos coloridas de gente passando mal, depois de exagerar em comidas excessivamente calóricas ou bebidas indigestas. O que nós fazemos nesse terreno é um absurdo e, se o estado não nos tomar providências, não sei onde vamos parar.

Ainda é cedo para avaliar a chamada lei da palmada, mas tenho certeza de que, protegendo as nossas crianças, ela se tornará um exemplo para o mundo. Pelo que eu sei, se o pai der umas palmadas no filho, pode ser denunciado à polícia e até preso. Mas, antes disso, é intimado a fazer uma consulta ou tratamento psicológico. Se, ainda assim, persistir em seu comportamento delituoso, não só vai preso mesmo, como a criança é entregue aos cuidados de uma instituição que cuidará dela exemplarmente, livre de um pai cruel e de uma mãe cúmplice. Pai na cadeia e mãe proibida de vê-la, educada por profissionais especializados e dedicados, a criança crescerá para tornar-se um cidadão modelo. E a lei certamente se aperfeiçoará com a prática, tornando-se mais abrangente. Para citar uma circunstância em que o aperfeiçoamento é indispensável, lembremos que a tortura física, seja lá em que hedionda forma — chinelada, cascudo, beliscão, puxão de orelha, quiçá um piparote —, muitas vezes não é tão séria quanto a tortura psicológica. Que terríveis sensações não terá a criança, ao ver o pai de cara amarrada ou irritado? E os pais discutindo e até brigando? O egoísmo dos pais, prejudicando a criança dessa maneira desumana, tem que ser coibido, nada de aborrecimentos ou brigas em casa, a criança não tem nada a ver com os problemas dos adultos, polícia neles.

Sei que esta descrição do funcionamento da lei da palmada é exagerada, e o que inventei aí não deve ocorrer na prática. Mas é seu resultado lógico e faz parte do espírito desmiolado, arrogante, pretensioso, inconsequente, desrespeitoso, irresponsável e ignorante com que esse tipo de coisa vem prosperando entre nós, com gente estabelecendo regras para o que nos permitem ver nos balcões das farmácias, policiando o que dizemos em voz alta ou publicamos e podendo punir até uma risada que alguém considere hostil ou desrespeitosa para com alguma categoria social. Não parece estar longe o dia em que a maioria das piadas será clandestina e quem contar piadas vai virar uma espécie de conspirador, reunido com amigos pelos cantos e suspeitando de estranhos. Temos que ser protegidos até da leitura desavisada de livros. Cada livro será acompanhado de um texto especial, uma espécie de bula, que dirá do que devemos gostar e do que devemos discordar e como o livro deverá ser comentado na perspectiva adequada, para não mencionar as ocasiões em que precisará ser reescrito, a fim de garantir o indispensável acesso de pessoas de vocabulário neandertaloide. Por enquanto, não baixaram normas para os relacionamentos sexuais, mas é prudente verificar se o que vocês andam aprontando está correto e não resultará na cassação de seus direitos de cama, precatem-se.



João Ubaldo Ribeiro (1941-2014) era escritor e imortal da Academia Brasileira de Letras


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