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QUEM CONTO SEUS MALES EM CRÔNICA

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23 Jul 2014 14:09 - 23 Jul 2014 14:10 #23699 por Fernando Orleans (fernandoorleans)
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Quem Conto seus males em Crônica


O Verbo For




João Ubaldo Ribeiro
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Vestibular de verdade era no meu tempo. Já estou chegando, ou já cheguei, à altura da vida em que tudo de bom era no meu tempo; meu e dos outros coroas. Acho inadmissível e mesmo chocante (no sentido antigo) um coroa não ser reacionário. Somos uma força histórica de grande valor. Se não agíssemos com o vigor necessário — evidentemente o condizente com a nossa condição provecta —, tudo sairia fora de controle, mais do que já está. O vestibular, é claro, jamais voltará ao que era outrora e talvez até desapareça, mas julgo necessário falar do antigo às novas gerações e lembrá-lo às minhas coevas (ao dicionário outra vez; domingo, dia de exercício).

O vestibular de Direito a que me submeti, na velha Faculdade de Direito da Bahia, tinha só quatro matérias: português, latim, francês ou inglês e sociologia, sendo que esta não constava dos currículos do curso secundário e a gente tinha que se virar por fora. Nada de cruzinhas, múltipla escolha ou matérias que não interessassem diretamente à carreira. Tudo escrito tão ruybarbosianamente quanto possível, com citações decoradas, preferivelmente. Os textos em latim eram As Catilinárias ou a Eneida, dos quais até hoje sei o comecinho.

Havia provas escritas e orais. A escrita já dava nervosismo, da oral muitos nunca se recuperaram inteiramente, pela vida afora. Tirava-se o ponto (sorteava-se o assunto) e partia-se para o martírio, insuperável por qualquer esporte radical desta juventude de hoje. A oral de latim era particularmente espetacular, porque se juntava uma multidão, para assistir à performance do saudoso mestre de Direito Romano Evandro Baltazar de Silveira. Franzino, sempre de colete e olhar vulpino (dicionário, dicionário), o mestre não perdoava.

— Traduza aí quousque tandem, Catilina, patientia nostra — dizia ele ao entanguido vestibulando.

— "Catilina, quanta paciência tens?" — retrucava o infeliz.

Era o bastante para o mestre se levantar, pôr as mãos sobre o estômago, olhar para a platéia como quem pede solidariedade e dar uma carreirinha em direção à porta da sala.

— Ai, minha barriga! — exclamava ele. — Deus, oh Deus, que fiz eu para ouvir tamanha asnice? Que pecados cometi, que ofensas Vos dirigi? Salvai essa alma de alimária. Senhor meu Pai!

Pode-se imaginar o resto do exame. Um amigo meu, que por sinal passou, chegou a enfiar, sem sentir, as unhas nas palmas das mãos, quando o mestre sentiu duas dores de barriga seguidas, na sua prova oral. Comigo, a coisa foi um pouco melhor, eu falava um latinzinho e ele me deu seis, nota do mais alto coturno em seu elenco.

O maior público das provas orais era o que já tinha ouvido falar alguma coisa do candidato e vinha vê-lo "dar um show". Eu dei show de português e inglês. O de português até que foi moleza, em certo sentido. O professor José Lima, de pé e tomando um cafezinho, me dirigiu as seguintes palavras aladas:

— Dou-lhe dez, se o senhor me disser qual é o sujeito da primeira oração do Hino Nacional!

— As margens plácidas — respondi instantaneamente e o mestre quase deixa cair a xícara.

— Por que não é indeterminado, "ouviram, etc."?

— Porque o "as" de "as margens plácidas" não é craseado. Quem ouviu foram as margens plácidas. É uma anástrofe, entre as muitas que existem no hino. "Nem teme quem te adora a própria morte": sujeito: "quem te adora." Se pusermos na ordem direta...

— Chega! — berrou ele. — Dez! Vá para a glória! A Bahia será sempre a Bahia!

Quis o irônico destino, uns anos mais tarde, que eu fosse professor da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia e me designassem para a banca de português, com prova oral e tudo. Eu tinha fama de professor carrasco, que até hoje considero injustíssima, e ficava muito incomodado com aqueles rapazes e moças pálidos e trêmulos diante de mim. Uma bela vez, chegou um sem o menor sinal de nervosismo, muito elegante, paletó, gravata e abotoaduras vistosas. A prova oral era bestíssima. Mandava-se o candidato ler umas dez linhas em voz alta (sim, porque alguns não sabiam ler) e depois se perguntava o que queria dizer uma palavra trivial ou outra, qual era o plural de outra e assim por diante. Esse mal sabia ler, mas não perdia a pose. Não acertou a responder nada. Então, eu, carrasco fictício, peguei no texto uma frase em que a palavra "for" tanto podia ser do verbo "ser" quanto do verbo "ir". Pronto, pensei. Se ele distinguir qual é o verbo, considero-o um gênio, dou quatro, ele passa e seja o que Deus quiser.

— Esse "for" aí, que verbo é esse?

Ele considerou a frase longamente, como se eu estivesse pedindo que resolvesse a quadratura do círculo, depois ajeitou as abotoaduras e me encarou sorridente.

— Verbo for.

— Verbo o quê?

— Verbo for.

— Conjugue aí o presente do indicativo desse verbo.

— Eu fonho, tu fões, ele fõe - recitou ele, impávido. — Nós fomos, vós fondes, eles fõem.

Não, dessa vez ele não passou. Mas, se perseverou, deve ter acabado passando e hoje há de estar num posto qualquer do Ministério da Administração ou na equipe econômica, ou ainda aposentado como marajá, ou as três coisas. Vestibular, no meu tempo, era muito mais divertido do que hoje e, nos dias que correm, devidamente diplomado, ele deve estar fondo para quebrar. Fões tu? Com quase toda a certeza, não. Eu tampouco fonho. Mas ele fõe.


Esta crônica foi publicada no jornal "O Globo" (e em outros jornais) na edição de domingo, 13 de setembro de 1998 e integra o livro "O Conselheiro Come", Ed Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 2000, pág. 20.


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Last edit: 23 Jul 2014 14:10 by Fernando Orleans (fernandoorleans).

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30 Jul 2014 01:39 #23723 por Fernando Orleans (fernandoorleans)
Respondido por Fernando Orleans (fernandoorleans) no tópico QUEM CONTO SEUS MALES EM CRÔNICA
Quem Conto seus males em Crônica


Preservando as espécies – crônica de João Ubaldo Ribeiro



By admin | June 1, 2013 1 Comment



Em Itaparica, não existe muita preocupação com esse negócio de privacidade, visto que, desde o tempo em que a luz era desligada pela prefeitura às dez horas da noite, o sabido saía com a moça, se esgueirando entre os escurinhos do Jardim do Forte e, no dia seguinte, na quitanda de Bambano, o fato já tinha alcançado ampla repercussão, com fartura de pormenores. O mesmo acontecia em todas as outras áreas e diz o povo que, quando meu tio-avô Zé Paulo, tido como mais rico que dezoito marajás, soltava um pum, sozinho numa sala de seu casarão, os puxa-sacos já ficavam de plantão no Largo da Quitanda e, no instante em que ele passava, se manifestavam efusivamente.

- Bom dia, coronel, bufou cheiroso outra vez!

- Muito bem bufado, coronel, quem está preso quer estar solto!

Quanto a câmeras de vigilância e segurança, correntemente na moda, receio que a situação é semelhante. Manolo quis botar uma no Bar de Espanha, mas desistiu depois que soube que todo mundo estava planejando pedir para fazer um teste com a Globo. Além disso, não há muita motivação para a instalação de câmeras, porquanto o que assaltar sempre foi meio escasso e Romero Contador, que não erra nem conta de raiz quadrada, já mostrou na ponta do lápis que, se alguém roubar o nosso PIB, vai passar o resto da vida altamente endividado, pois a verdade, por mais duro que seja reconhecer, é que nossa economia não interessa nem a deputado estadual e mal sobra o que furtar para os corruptos locais.

Não havia, portanto, razão aparente para o movimento deflagrado por Zecamunista, como sempre meio de surpresa. Nada indicava que estivesse motivado para nova campanha cívica, ainda mais envolvendo questões exóticas, como a privacidade. Depois de mais uma vitoriosa temporada de pôquer por todo o Recôncavo, onde chegou a ganhar dois barcos de pesca – que rebatizou de Marx e Engels e doou à Cooperativa Comunista Deus É Mais, há muitos anos fundada por ele, em Valença – voltara à ilha na semana anterior, na discreta companhia de “duas senhoras de Nazaré das Farinhas, minhas correligionárias”, como ele me disse ao telefone, sem mais adiantar e muito menos me convidar para conhecer as duas correligionárias. Desde esse dia, fora visto apenas uma vez, comprando uma garrafinha de catuaba no Mercado e voltando apressadamente para casa, no passo ligeirinho de clandestino a que a vida de militante bolchevique o acostumou. E já se pensava que as correligionárias iam ocupá-lo por mais tempo que o esperado, ouvindo-se também a maledicência de que “Zeca não é mais aquele”, mas eis que ele, como se nada tivesse acontecido, compareceu ao Bar de Espanha, na happy hour das nove da manhã, e fez o anúncio inesperado.

- Estou fundando o Movimento de Preservação e Defesa do Corno Nacional – disse ele. – Essa viagem acabou de me convencer de que o corno está em extinção. Um dos parceiros com quem eu joguei, não vou dizer onde, contou, quase satisfeito, que foi largado pela mulher, que tinha confessado ter um amante. Mas não era por isso que largava o marido, era porque estava sufocada, queria o espaço dela. O espaço dela era na cama do outro, mas todo mundo finge que acredita e fica tudo por isso mesmo. É a globalização descaracterizando a identidade nacional, não zelamos pelo nosso patrimônio cultural, encaramos tudo com a mais leviana das inconsequências e, se não tomarmos providências agora, nossos descendentes nem saberão o significado da palavra “corno” e toda sua riqueza emocional, artística e histórica!

Com efeito, meus caros senhores, em primeiro lugar, o corno desaparece a olhos vistos, ninguém mais liga. Isso não é possível, não é sustentável, é um abismo. Já basta não haver mais mistério quanto à paternidade, por causa da novidade dos exames de DNA. A vida perdeu a emoção, nunca mais aquelas investigações de paternidade que não chegavam a nenhuma conclusão, nunca mais confissões arrepiantes no leito de morte. E a espionagem eletrônica, celulares rastreadores, gravadores secretos, câmeras minúsculas, visão noturna, detectores disso e daquilo, tudo bisbilhotado e bisbilhotável? Nada mais é sagrado? O sujeito quer ser corno em paz e não permitem, têm que incomodá-lo com denúncias e provas que ele nunca pediu, pensem nisso! Até um dos últimos bastiões da liberdade está sendo destruído! Onde ficará Lupicínio Rodrigues, onde ficará Ataulfo Alves, onde ficará a dúvida cruel, onde ficará a viagem de negócios, onde ficará a tarde no dentista?

- Eles não sabem o que dizem, são uns inocentes – disse Zeca, ao ver que suas palavras haviam ocasionado um debate de grandes proporções. – As ideias novas sempre provocam reações negativas, inclusive entre aqueles que vão se beneficiar delas, é a maldição do pioneirismo.

Aqui para nós, seu real objetivo não era bem a preservação de uma espécie. Pretendia mesmo era montar mais um esquema para beneficiar as classes populares da ilha, ou seja, quase todo mundo. Esse papo de corno não passava de marketing, destinado a aproveitar e incrementar um clima já existente. O próximo passo será bolar um serviço para o nosso nicho de mercado. O nosso nicho não é o corno comum, que esse já perdeu o sentido e ainda não sabe, mas o corno saudosista, o tradicionalista, o que tem nostalgia dos velhos tempos dourados, o que ainda acredita. Não duvidava que fosse possível obter incentivos do Ministério da Cultura. E já podia antecipar os anúncios estampados nos jornais: “Corneie seu ente querido à moda antiga, venha à nossa ilha”.

- Há outros esquemas, mas eu prefiro esse – disse ele. – Nós vamos fornecer a mão de obra.


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14 Ago 2014 14:12 #23766 por Fernando Orleans (fernandoorleans)
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Quem Conto seus males em Crônica



Morte


Assisti a algumas imagens do velório do Bussunda, quando os colegas do Casseta & Planeta deram seus depoimentos.

Parecia que a qualquer instante iria estourar uma piada.
Estava tudo sério demais, faltava a esculhambação, a zombaria, a desestruturação da cena.

Mas nada acontecia ali de risível, era só dor e perplexidade, que é mesmo o que a morte causa em todos os que ficam.

A verdade é que não havia nada a acrescentar no roteiro: a morte, por si só, é uma piada pronta. Morrer é ridículo.

Você combinou de jantar com a namorada, está em pleno tratamento dentário, tem planos pra semana que vem, precisa autenticar um documento em cartório, colocar gasolina no carro e no meio da
tarde morre. Como assim? E os e-mails que você ainda não abriu, o livro que ficou pela metade, o telefonema que você prometeu dar à tardinha para um cliente?

Não sei de onde tiraram esta idéia: morrer.
A troco? Você passou mais de 10 anos da sua vida dentro de um colégio estudando fórmulas químicas que não serviriam pra nada, mas se manteve lá, fez as provas, foi em frente. Praticou muita educação física, quase perdeu o fôlego, mas não desistiu.
Passou madrugadas sem dormir para estudar pro vestibular mesmo sem ter certeza do que gostaria de fazer da vida, cheio de dúvidas quanto à profissão escolhida, mas era hora de decidir, então decidiu, e mais uma vez foi em frente.

De uma hora pra outra, tudo isso termina numa colisão na freeway, numa artéria entupida, num disparo feito por um delinqüente que gostou do seu tênis.

Qual é? Morrer é um cliche.

Obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua música preferida. Você deixou em
casa suas camisas penduradas nos cabides, sua toalha úmida no varal, e penduradas também algumas contas. Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas, a mexer nas suas gavetas, a apagar as pistas que você deixou durante uma vida inteira.

Logo você, que sempre dizia: das minhas coisas
cuido eu.

Que pegadinha macabra: você sai sem tomar café e talvez não almoce, caminha por uma rua e talvez não chegue na próxima esquina, começa a falar e talvez não conclua o que pretende dizer. Não faz exames médicos, fuma dois maços por dia, bebe de tudo, curte costelas gordas e mulheres magras e
morre num sábado de manhã. Se faz check-up regulares e não tem vícios, morre do mesmo jeito.
Isso é para ser levado a sério?

Tendo mais de cem anos de idade, vá lá, o sono eterno pode ser bem-vindo.
Já não há mesmo muito a fazer, o corpo não acompanha a mente, e a mente também já rateia, sem falar que há quase nada guardado nas gavetas. Ok, hora de descansar em paz. Mas antes de viver tudo, antes de viver até a rapa? Não se faz.

Morrer cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas. Morrer é um exagero. E, como se sabe, o exagero é a matéria-prima das piadas.

Só que esta não tem graça.


Pedro Bial


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23 Ago 2014 18:49 #23862 por Fernando Orleans (fernandoorleans)
Respondido por Fernando Orleans (fernandoorleans) no tópico QUEM CONTO SEUS MALES EM CRÔNICA
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O descaso, por Luis Fernando Veríssimo


Esse horror na penitenciária do Maranhão é apenas um exemplo extremo do descaso com que são tratados os apenados no Brasil. Em geral as prisões brasileiras são sucursais do inferno, e tem sido sempre assim, não importa quem governe. O que leva a pensar se não existe, por trás da insensibilidade hereditária, outra razão para o horror. Verbas para o sistema penitenciário estão tradicionalmente entre as últimas prioridades do país, o aumento da criminalidade lota prisões inadequadas, esquecidas pelo poder público, mas não é só isso.

Haveria outra lógica, inconsciente mas não menos culpada, justificando o descaso. Chamar as prisões de infernos, como é comum, nos dá uma pista do que seja essa outra lógica. De acordo com a cosmogonia cristã, o inferno é para onde vão os pecadores — para sempre. Pecadores não merecem perdão nem compaixão, seu sofrimento é contínuo e eterno.

Existiria a convicção, nunca reconhecida mas prevalente, de que bandido tem que sofrer mesmo, que deveria ter pensado no que o esperava no inferno da prisão antes de cometer seu pecado, e que a sociedade não lhe deve a consideração que daria a um animal.

Qualquer discussão sobre direitos humanos sempre empaca na questão dos limites de consideração que merece um criminoso. É comum acusarem os que se preocupam com os direitos humanos de qualquer humano, mesmo os criminosos, de ignorarem os direitos humanos das suas vítimas. O que é um falso silogismo.

Todo humano é humano antes de ser qualquer outra coisa, inclusive um monstro. Na questão de como castigar o criminoso é que seguidamente se sente, disfarçada ou não, a nostalgia da velha e boa, e acima de tudo simples, cosmogonia: o céu para os bons, o inferno e todas as suas agonias para os maus. Presos amontoados, matando-se uns aos outros — é pena, mas quem mandou serem maus?

Penitenciárias superlotadas e violentas não são vergonhas só brasileiras, claro. O problema de como alojar apenados, tratá-los como gente e se possível reabilitá-los é internacional. Mas as cenas da barbárie no Maranhão mostraram um grau de selvageria provocado pelos anos de indiferença que espantou o mundo. Chegamos a isto. Somos os campeões do descaso e das suas consequências.



Luis Fernando Veríssimo é escritor.


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27 Ago 2014 00:11 #23919 por Fernando Orleans (fernandoorleans)
Respondido por Fernando Orleans (fernandoorleans) no tópico QUEM CONTO SEUS MALES EM CRÔNICA
Quem Conto seus males em Crônica


Pensando bem em tudo o que a gente vê e vivencia
e ouve e pensa, não existe uma pessoa certa pra gente.
Existe uma pessoa que se você for parar pra pensar é, na verdade, a pessoa errada.
Porque a pessoa certa faz tudo certinho!
Chega na hora certa, fala as coisas certas,
faz as coisas certas, mas nem sempre a gente tá precisando das coisas certas.
Aí é a hora de procurar a pessoa errada.
A pessoa errada te faz perder a cabeça, perder a hora, morrer de amor...
A pessoa errada vai ficar um dia sem te procurar
que é pra na hora que vocês se encontrarem
a entrega ser muito mais verdadeira.
A pessoa errada, é na verdade, aquilo que a gente chama de pessoa certa.
Essa pessoa vai te fazer chorar, mas uma hora depois vai estar enxugando suas lágrimas.
Essa pessoa vai tirar seu sono.
Essa pessoa talvez te magoe e depois te enche de mimos pedindo seu perdão.
Essa pessoa pode não estar 100% do tempo ao seu lado, mas vai estar 100% da vida dela esperando você.
Vai estar o tempo todo pensando em você.
A pessoa errada tem que aparecer pra todo mundo,
porque a vida não é certa.
Nada aqui é certo!
O que é certo mesmo, é que temos que viver cada momento, cada segundo, amando, sorrindo, chorando, emocionando, pensando, agindo,
querendo,conseguindo...
E só assim, é possível chegar àquele momento do dia em que a gente diz: "Graças a Deus deu tudo certo"
Quando na verdade, tudo o que Ele quer é que a gente encontre a pessoa errada pra que as coisas comecem a realmente funcionar direito pra gente...

Luis Fernando Veríssimo


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