A violênçia dos opressores que os faz também desumanizados, não instaura uma outra vocação-a do ser menos.Como distorção do ser mais, o ser menos levam os oprimidos, cedo ou tarde, a lutar contra quem os fez menos.E esta luta somente tem sentido quando os oprimidos, ao buscar a sua humanidade, que é uma forma de criá-la, não se sentem idealistamente opressores, nem se tornam, de fato, opressores dos opressores, mas restauradores da humanidade em ambos.E aí está a grande tarefa humanista e histórica dos oprimidos-libertar-se a si e aos opressores.Estes, que oprimem, exploram e violentam, em razão do seu poder, não podem ter, roeste poder, a força da libertação dos oprimidos nem de si mesmos.Só o poder que nasça da debilidade dos oprimidos será suficientemente forte para libertar a ambos.Por isto é que o poder dos opressores, quando se pretende amenizar ante a debilidade dos oprimidos, não apenas quase sempre se expressa pela falsa generosidade , como jamais ultrapassa.Os opressores , falsamente generosos , têm necessidade, para que a sua "generosidade" continue tendo oportunidade de realizar-se, da permanência da injustiça.A "ordem" social injusta é a fonte geradora , permanente , desta "generosidade"que se nutre na morte, no desalento e da miséria.
Talvez dês esmolas.Mas , de onde as tiras , senão de tuas rapinas cruéis, do sofrimento, das lagrimas, dos suspiros?Se o pobre soubesse de onde vem o teu óbulo, ele o recusaria porque teria impressão de morder a carne de seus irmãos e de sugar o sangue de seu próximo.Ele ti diria estas palavras corajosas: não sacies a minha sede com as lágrimas de meus irmãos.Não dês ao pobre o pão endurecido com os soluços de meus companheiros de miséria.Devolve a teu semelhante aquilo que reclamaste e eu te serei muito grato De que vale consolar um pobre, se tu fazes outros cem?
Autor:Paulo Freire
Pedagogia do Oprimido